Um belo livro sobre livros


Dorothée de Bruchard



RESENHA do projeto gráfico de
Leitura, História e História da Leitura, de Márcia Abreu (org.).
(ALB / FAPESP / Mercado de Letras, 2000.)





Um livro que fala de livros, e que é um belo livro. Melhor: é de uma coleção que se trata, uma bela coleção que fala de livros e de leitura, a Coleção Histórias de Leitura, publicada em Campinas pela Mercado de Letras, em co-edição com a Associação de Leitura do Brasil e coordenada por Márcia Abreu.

São três títulos até o momento: Histórias de Cordéis e Folhetos (Márcia Abreu), Leitura, História e Histórias de leitura, e Histórias de Leituras de Almanaques no Brasil (Margareth Brandini Park), textos ensaísticos, acadêmicos, com muita nota de rodapé, fartas citações, em formato 16 x 23. São, literalmente e em todos os sentidos, textos de peso. O volume Leitura, História e História da Leitura (2000), por exemplo, soma 640 páginas. Organizado por Márcia Abreu, traz artigos de 26 colaboradores, contribuições valiosas para quem se interessa por histórias de livros. Mas, convenhamos, trata-se de um tijolão, e tijolões — como enciclopédias, e obras de referência — costumam inspirar respeito, segurança, não um irresistível apelo à leitura.

Pois este tijolão, adquiriu, com o projeto gráfico de Vande Rotta Gomide — que também assina a capa, inacreditável leveza. A escolha do tipo, delicado, a distribuição equilibrada dos blocos de texto, as margens generosas, tudo ali, mesmo o sumário, mesmo o código de barras simplesmente reproduzido sem o indefectível quadrado branco de fundo, fala de um projeto concebido com cuidado e contribui para promover, entre o leitor e o texto, gostosa sensação de intimidade. Há, sim, sempre há, aspectos questionáveis: um entrelinhamento exagerado, dirão alguns. Mas são detalhes, e este é o caso de se dizer que "gosto é gosto, e pronto" — o que seduz, estabelece o diálogo, é o fato de haver um projeto, uma elaboração, uma harmonia perfeita entre a capa e o miolo, e aquela simplicidade tão difícil de alcançar.

Os papéis utilizados têm, aqui, importância decisiva: para a capa, papel kraft, para o miolo um papel que me parece ser o Eco Natural, aquele dos "cabelinhos" (é uma pena, diga-se, que não constem no livro informações sobre o papel, a tipologia). O kraft não é um papel fotogênico, não fica bem "no jornal". Mas tem um charme discreto e compõe com o miolo um conjunto coerente, convidativo. Com seu ar de "feito a mão", o livro dá vontade de tocar, cheirar, vontade de ler — e a leitura vale, realmente, a pena. Um livro que fala de livros, e que é um belo livro — não é algo que se encontre todo dia.


Publicado no Leitores & Livros, n. 36, Rio de Janeiro, agosto de 2002)



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