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Heloisa Jahn
Excerto de O Livro da Gráfica, de Claudio Ferlauto & Heloisa Jahn
(SP: Edições Rosari, 2001).
Entre a privacidade da criação do autor e a exposição irrestrita operada por sua publicação, o livro faz um trânsito que exige determinadas providências. Delas se ocupa o editor. Mas não apenas delas.
A principal atividade de um editor é ler. Sua aptidão pessoal é saber ler em diversos registros, sucessiva ou simultaneamente, e, ao fazê-lo, reconhecer as necessidades específicas do texto e empenhar-se em atendê-las.
Inicialmente, o sentido predominante de sua leitura é travar conhecimento com o texto, compreender como trabalha o autor e visualizar o espaço onde se move sua inteligência.
Estabelecida aderência com a obra — com o estilo, a estrutura. a temática e a forma dee trabalhar do autor —, o passo seguinte é deslocar-se para a posição do autor, identificando ajustes que possam contribuir para uma melhor qualidade do texto. Para que o editor possa desempenhar esse papel, contudo, condição indispensável, é o autor reconhecer em sua intervenção um procedimento análogo a sua própria forma de lidar com a escrita. Em outras palavras, as observações do editor têm, invariavelmente, o sentido de aperfeiçoar o livro tal como o concebe seu autor. Nem é preciso dizer que a atividade do editor deve ser o oposto da autoritária: ele espera poder ser útil ao autor, mas jamais deverá pressionar ou constranger o autor com sua própria opinião.
A associação peculiar entre um autor e seu editor deve, ainda, ser útil para o primeiro na medida em que o segundo se empreste de forma eficaz como leitor externo prévio à exposição indiscriminada do livro publicado. Sua posição ao mesmo tempo crítica e cúmplice facilitará a última leitura e as alterações definitivas do autor.
Em especial, o autor contará com a leitura meticulosa de seu editor na revisão final do texto, para a eliminação de pequenos descuidos ou para a adição de elementos acessórios que enriqueçam a obra ou facilitem sua leitura no caso, principalmente, de obras não ficcionais.
Por fim, estabelecido o texto a ser publicado, o editor estará presente na definição do aspecto gráfico do livro. Papel, tipologia, distribuição das palavras na página, espaço maior ou menor entre as linhas — tudo aponta para o conteúdo do volume. A capa, particularmente, além de ser eficaz em sua função de atrair o olhar dos possíveis leitores, deve denotar com fidelidade texto e estilo, sendo uma apresentação inequívoca do que o leitor irá encontrar. Assim, é fundamental a colaboração do editor com o produtor gráfico e o capista, instrumentando-os na realização de seu trabalho.
Resta acrescentar que todo editor sente um enorme prazer com o que faz, e que a cada novo livro ele acredita estar participando da criação do mundo.
HELOISA JAHN
é editora, tradutora, e autora de
Canto breve dos desamados (poesia, Ed. Movimento).
Reproduzido com autorização da autora e do editor