Editores artesanais brasileiros


Cristina Antunes



ORELHA de Editores artesanais brasileiros, de Gisela Creni.
(Belo Horizonte: Autêntica / Rio de Janeiro: FBN, 2013.)






Neste belo livro, Gisela Creni nos guia por um universo desconhecido da maioria das pessoas: o dos editores artesanais brasileiros, cujas surpreendentes edições, em pequenas tiragens, trazem à tona um novo olhar brasileiro sobre o livro.

Resultado de uma pesquisa original que apresenta um relato minucioso sobre a produção das editoras artesanais, a autora nos oferece ainda os perfis de seus criadores, que atuaram não apenas no eixo Rio-São Paulo, mas também em outros estados brasileiros. Somos, inicialmente, apresentados a João Cabral de Melo Neto e sua editora O Livro Inconsútil; em seguida, a Manuel Segalá e Philobiblion; a Geir Campos e a Thiago de Mello e sua Hipocampo; a Pedro Moacir Maia e Dinamene; a Gastão de Holanda e O Gráfico Amador, Mini Graf e Fontana; e, finalmente, a Cleber Teixeira e sua editora Noa Noa.

Todos esses editores singulares buscavam o processo da produção artesanal individualizada. Suas edições não nascem da pura fantasia, mas de uma combinação de espírito criador e capacidade de idealizar, coordenar e realizar seus projetos. Seu trabalho representa a reunião, numa só pessoa, de tarefas, no geral, claramente separadas: o responsável pela edição artesanal pode ser, ao mesmo tempo, autor, ilustrador, editor, tipógrafo e distribuidor.

No projeto gráfico cuidadoso, mas não luxuoso, tudo é pensado: a composição do texto no papel criando uma distribuição especial, a tipologia escolhida, a diagramação a ser adotada, a página de rosto, o colofão, o formato final do livro. O conjunto desses fatores, aliados às ilustrações, abre uma nova fronteira estética para o leitor. Como aconteceu com José Mindlin, que reuniu em sua biblioteca praticamente toda a produção dessas editoras artesanais, não apenas por seu interesse nos livros em si, mas também pelo convívio e amizade com todos esses editores.

A opção pela publicação do gênero da poesia e de autores brasileiros muitas vezes desconhecidos, juntamente com traduções de autores estrangeiros, constitui apenas um dentre os vários componentes que tornaram a riqueza dessa produção editorial possível.

Com uma linguagem de fácil entendimento que não intimida o leitor, esta obra de Gisela trata o tema de maneira clara, e, ao refletir e comunicar essa aventura editorial, nos presenteia com a revelação das facetas do livro artesanal e das possibilidades contidas em suas páginas.


Cristina Antunes
é conservadora da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin na USP.
É autora de
/ Memórias de uma guardadora de livros /
Reproduzido com autorização da autora




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