Por que traduzir?
Laure Bataillon
(1928-1990)
Tradução de Dorothée de Bruchard
Tradutora responsável pela introdução e promoção da literatura hispânica na França, notadamente da obra de Cortázar.
Com incansável atuação em prol da valorização do tradutor, foi uma das fundadoras da Association des Traducteurs Littéraires de France.
Excerto de Traduire, écrire (Arcane 17 / ATLF / Meet, 1991). Texto originalmente publicado em Presse Océan, 16/09/1987.
Você me pergunta por que traduzo? É o mesmo que perguntar por que caminho! Ora, para me comunicar! Para tentar ver e dar a ver Paris para além da minha janela: traduzir, confrontar nossa própria experiência humana com a do outro, aprender através dele enquanto ele, em troca, aprende através de nós.
Traduzo para partilhar o fruto das minhas curiosidades, dos meus maravilhamentos. Traduzo também para domesticar as palavras da minha própria língua, para melhor compreendê-las e melhor cativá-las.
Emigração, imigração, misturas; a mescla de raças e idéias é a constante mais antiga da humanidade, como quer que ela tenha sido e onde quer que tenha estado, atestada desde os primórdios da pré-história. Uma necessidade de ordem quase cósmica, diriam alguns.
A mais velha profissão do mundo não é esta que pensam, é a de tradutor. Esta que foi, já desde a formação das linguagens, uma necessidade essencial: para fertilizar pela troca.
Costumo dizer, brincando, que uma greve de tradutores em todas as áreas (cultural, política, científica, médica, jurídica, comercial) paralisaria tão seguramente um país como uma greve geral de energia elétrica. Reflita se estou exagerando. E reflita no que seria a nossa sociedade em particular sem os incalculáveis aportes do estrangeiro: da Bíblia à penicilina.
Aprender, comparar, transmitir. Três palavras-chave da função da tradução. “É-se tantas vezes mais homem quanto mais línguas se conhece”, dizia Carlos Quinto.
© tradução | Dorothée de Bruchard | 2007.
Tradução gentilmente autorizada por Philippe Bataillon
Imagem: Escritório do Livro