O perfil do cliente dos sebos

em São Paulo e no Rio de Janeiro

Aníbal Bragança

Eliane Ganem
Maria Virgínia M. de Arana
Shirley Dias da Silva


Excerto do estudo: “O Consumidor de livros de segunda mão.
Perfil do cliente dos sebos” (ECA/ USP, 1992). | Texto integral |

Quem é o consumidor de livros usados

As respostas indicam-nos que sua maioria é do sexo masculino (setenta e sete por cento), mas as mulheres também aparecem de modo significativo. Metade é de pessoas casadas. Os solteiros alcançam trinta por cento. A faixa etária dos 26 aos 55 anos soma setenta por cento do universo pesquisado, praticamente dividida ao meio entre 26 a 35 anos e 36 a 55 anos. De 15 a 26 anos, apenas nove por cento.

Quase setenta e cinco por cento têm nível superior, divididos entre graduados, mestres e doutores. Apenas vinte e cinco por cento não têm curso universitário, sendo que é de seis por cento o número daqueles que apenas completaram o curso de primeiro grau.

Vinte e nove por cento são profissionais liberais ou professores universitários. Trinta e quatro por cento é de funcionários públicos, professores secundários e jornalistas ou escritores.

A renda familiar de quase quarenta por cento é de mais de dez salários mínimos por mês. Com menos de três salários mínimos aparecem treze por cento.

Cinqüenta e seis por cento pertencem aos quadros de alguma instituição acadêmica, cultural ou científica, sendo que mais de setenta por cento lêem livros também em pelo menos um idioma estrangeiro.

Os dados destacados acima estão nas tabelas do anexo 16 que devem ser consultados para maiores informações.

Cultura superior, média ou baixa?

Embora reconhecendo, com Marcelo Coelho (Folha de S. Paulo, Ilustrada, 24.06.92) que estabelecer distinções entre níveis é “tarefa complicada” e que o importante está na “biografia cultural, subjetividade e na sensibilidade de cada pessoa”, com essas ressalvas, arriscamo-nos a classificar o nosso universo de consumidores. Em resposta à pergunta (2): “Quais os temas (ou áreas) de seu maior interesse?” tivemos o seguinte resultado:

a. Temas mais densos, eventualmente identificados como cultura superior, erudita ou alta, como: filosofia, ciências, teologia, arte, literatura clássica e poesia: cinqüenta e cinco por cento.

b. Áreas mais identificadas com cultura de massa, popular ou baixa: livros policiais, ficção científica, terror, espionagem, aventura, estórias de amor, aventuras românticas, romances eróticos e, também, religião, misticismo, astrologia e ciências ocultas: quinze por cento.

c. Áreas que, talvez mais do que as anteriores, podem tanto ser do campo da alta quanto da média, indicando para nós mais diretamente um interesse profissional: história do Brasil, direito, política, economia, ciências sociais e atualidades: vinte e quatro por cento.

Os dados completos estão no anexo 1. Esta classificação espelha o perfil apontado anteriormente: o consumidor de livros usados é predominantemente um indivíduo que possui uma formação superior moderna. Pertence à geração dos anos 1950/1960, formado na cultura letrada e humanista (o tema mais “votado” é literatura clássica).

Leitor “funcional”, bibliófilo ou bibliômano?

O consumidor de livros de segunda mão é potencialmente um bibliófilo: setenta por cento dos entrevistados declaram-se colecionadores. Os temas das coleções são extremamente diversificados, pessoais. A não ser um certo indício de interesse concentrado em “primeiras edições dos autores do modernismo brasileiro” parece não existir hoje no Brasil qualquer “moda” na bibliofilia.

Apenas trinta e nove por cento justificaram profissionalmente ou funcionalmente a decisão de formar a coleção. Cinqüenta e sete por cento associam sua decisão a “prazer intelectual”, hobby, “preservar a memória” e investimento. Veja anexo 2.

Outro indicador que anuncia a presença do “espírito” do colecionador está no número de livros adquiridos por mês (ver anexo 3); mais de cinco, para sessenta e quatro por cento dos entrevistados, e o número de volumes de suas bibliotecas particulares (ver anexo 3); quarenta e quatro por cento têm mais de mil, sendo que vinte e seis por cento ultrapassam os três mil volumes. Outros dados significativos: cinqüenta e sete por cento dos entrevistados lêem apenas “mais ou menos” metade dos livros adquiridos (ver anexo 3); antes de continuar as considerações sobre os resultados que nos indicam ser o universo dos consumidores dos sebos o mundo da bibliofilia, o que determinou o viés do nosso trabalho, permitimo-nos fazer uma pequena digressão para o belo texto de Walter Benjamim (ver bibliografia) onde se discute a questão referente a este último dado da pesquisa:

Seria — vocês hão de perguntar — uma característica do colecionador não ler livros? Dir-se-ia que é a maior das novidades. Mas não, pois é a coisa mais velha do mundo, e menciono aqui a resposta que Anatole France tinha na ponta da língua para dar ao filisteu que, após ter admirado sua biblioteca, terminou com a pergunta obrigatória: — E o senhor leu tudo isso, Monsieur France? — Nem sequer a décima parte. Ou, por acaso, o senhor usa diariamente sua porcelana de Sèvres?

Finda a digressão, voltemos aos dados. Entre os vários indicadores que poderiam influenciar na hora da compra dos livros (resposta múltipla), apenas vinte e quatro por cento assinalaram a “necessidade” (ver anexo 4); respondendo à pergunta: “por que você compra livros?” apenas nove por cento responderam “para manter-me atualizado”, sendo que vinte e oito por cento assinalaram “os livros são objetos de cultura e arte” e “é importante ter uma biblioteca para toda a família”; quarenta por cento responderam “a leitura é um prazer” e “por hábito/mania de ler” (ver anexo 4).

Embora apenas seis por cento usem ex-libris para identificar sua biblioteca (o que sinaliza um abandono da pretensão de “enobrecimento” via coleção de livros) (ver anexo 2), setenta e três por cento dos entrevistados têm o hábito de adquirir outros objetos usados e/ou antigos (ver anexo 11).

Poderíamos também assinalar que a freqüência aos sebos (cinqüenta e três por cento vão pelo menos uma vez por semana, sendo dezesseis por cento, todos os dias) e o tempo que o consumidor fica na livraria (sessenta e três por cento ficam de uma a três horas) e ainda que setenta e quatro por cento tem o hábito de visitar sempre ou às vezes mais de um sebo no mesmo dia (ver anexo 7), tudo isto indica algo mais do que uma necessidade funcional, e sim indica uma motivação subjetiva muito forte, inclusive, na sua prioridade no dispêndio de tempo.

Outro indicador, que é fundamental para indicar os bibliófilos, segundo Frieiro: oitenta por cento dos entrevistados compram mais livros usados do que novos (ver anexo 8) e, finalmente, outro indicador: setenta e três por cento não têm o hábito de pedir e emprestar livros (ver anexo 10). O colecionador é, assumidamente, um ciumento! Especialmente quando se trata de outro colecionador. Ele dá, mas não empresta livros. Ou então furta! Vale citar, a propósito, mais uma vez, Walter Benjamim:

Dos modos costumeiros de adquirir livros, o mais conveniente seria tomar emprestado sem a subseqüente devolução.

Certamente os resultados da pesquisa (ver anexo) oferecem outras indicações que podem reforçar a nossa conclusão de que a parte substantiva dos compradores de livros usados é de colecionadores, bibliófilos, bibliômanos ou aprendizes de. Estes podem estar entre os que indicam possuir em sua biblioteca até duzentos volumes (dezoito por cento). Pois embora a quantidade de volumes não seja suficiente para identificarmos o colecionador, é raro o bibliófilo, mesmo com uma coleção de cimélios de apenas uns poucos exemplares, que não possua uma biblioteca de milhares de volumes.

Esta constatação sugere uma nova pesquisa, mais específica, seguindo as indicações dos autores e das reflexões contidas na primeira parte deste trabalho, que nos pudesse oferecer um retrato das motivações sociais e psicológicas ou existenciais da prática da bibliofilia entre nós, hoje.

Embora tenha sido essa a nossa conclusão, não nos passou despercebida a importância no mercado da parcela de compradores de livros de segunda mão levada aos sebos pelas dificuldades atuais de continuar comprando os livros novos e daqueles que compram usados porque decidem gastar menos em algo que pode ser descartado (trocado, dado ou vendido) após a leitura. Esse contingente tem aumentado com a redução do poder aquisitivo da classe média, ao mesmo tempo que tem sido favorecido com uma oferta muito maior de livros em virtude de que essa mesma crise tem levado muitas pessoas a se desfazerem de suas bibliotecas. Não só porque se lhes torna necessário “converter” algum patrimônio em dinheiro para as despesas até de seu cotidiano, quanto pelo fato da necessidade de mudança para residências menores que não comportam espaços para livros. Esta situação fica evidente pelo crescente número de livrarias novas que se dedicam ao comércio de livros usados. O que foi confirmado em entrevistas informais com os livreiros.

Um sinal de que “os tempos estão mudando” em relação ao livro usado é que está em queda um certo preconceito antigo: hoje setenta e seis por cento dos compradores afirmam que presenteiam com livros usados. Mesmo considerando-se o universo da pesquisa, é um percentual muito significativo dessa mudança.

Do presente ao passado

Setenta e sete por cento dos entrevistados encontraram pelo menos uma razão para preferirem os livros antigos aos de hoje (ver anexo 5), destacando-se a preferência quanto ao objeto gráfico, especialmente na manifestação de que “as ilustrações são de melhor qualidade”. Apenas vinte e três por cento acham que “hoje publica-se mais e melhor do que antigamente”.

Não nos devemos esquecer que estamos diante de um universo predominante de colecionadores, para quem quanto mais contiver o objeto de trabalho artesanal, feito por mestres do ofício, mais ele se valoriza. O que, é claro, também se aplica às ilustrações, que, nos livros “antigos”, muitas vezes são reproduções de trabalho de artistas consagrados, como Gustave Doré, Albert Dürer e muitos outros.

Na resposta à pergunta (21) sobre “o que é mais importante no livro, como objeto material?” o item que alcançou maior incidência foi “a legibilidade do texto”. Afora tratar-se de algo fundamental num livro, acreditamos que esta situação retrata duas coisas: uma bem óbvia, uma boa parte dos leitores é de uma faixa etária que certamente já exige o uso de lentes para leitura; outra: tem-se verificado no Brasil o uso abusivo da redução do corpo da tipografia e do espaço entre linhas, especialmente nos livros de grande volume, visando reduzir o número de páginas. Isso, algumas vezes acrescido de impressões esmaecidas ou papel inadequado tem excluído muitos dos seus potenciais leitores, muitas vezes resultando no encalhe da edição.

Tradição, Modernidade e Pós-Modernidade

A pergunta “há obras fundamentais para a formação básica de uma pessoa?”, foi uma das que tiveram maior índice de abstenção de resposta: quarenta e três por cento. Dos que responderam, cinqüenta e sete por cento assinalaram sim. Não é desprezível o fato de tão alto índice de recusa à resposta. Certamente poderá indicar uma perplexidade diante da questão. Somando-se ao percentual de quarenta e três por cento que responderam não constata-se uma crise da idéia, sobre a qual tanto se escreveu, de um acervo cultural básico para todos. Certamente, hoje essa idéia não terá sido abandonada, mas se especializou e está determinada por cada ramo do conhecimento.

Outrossim, as respostas positivas tiveram uma dispersão muito acentuada: enquanto os “clássicos” Homero, Shakespeare e Machado de Assis foram citados apenas nove vezes, a Bíblia seis, e Platão cinco, noventa e um autores foram citados apenas uma vez. Parece indicar-nos mais que a idéia de um “descolecionismo”, a idéia de uma coleção pessoal, fora dos paradigmas da modernidade.

Isto também pode ser constatado, como afirmamos atrás, nos temas das coleções dos bibliófilos. Cada colecionador faz a sua coleção!

As respostas à pergunta (28) “que leituras foram mais importantes na sua vida?” (vide anexo 14) confirmam a extrema dispersão de experiências literárias mais significativas. Além de Machado de Assis, com apenas 9 indicações (em várias obras) e a Bíblia (8 indicações) o restante espalha-se num universo acentuadamente múltiplo, diversificado.

Entre os mais assinalados, comparando-se os resultados com os da resposta à pergunta 23 (anexo 13) sobre um possível acervo básico percebemos que três autores (ou obras) se repetem entre as cinco leituras mais importantes para a vida da pessoa entrevistada. Dois autores indicados para o “acervo básico”, Shakespeare e Homero, não foram aqui tão citados. No seu lugar apareceram dois escritores contemporâneos brasileiros: Carlos Drummond de Andrade e Monteiro Lobato. O que é compreensível: aqui as respostas se aproximam mais do real-vivido: lá a importância do ensinado é muito grande. A multiplicidade e diversidade é também o que se depreende do quesito sobre os “hábitos culturais” dos compradores dos livros de segunda mão (ver anexo 15); apesar de uma acentuada concentração nas leituras cotidianas de livros, jornais e revistas, os entrevistados têm hábitos de consumo cultural ricamente diversificados: freqüentam habitualmente teatros, cinemas, museus, concertos. galerias de arte e shows e mesmo bibliotecas públicas, além de assistirem à TV, diariamente, e vídeo. O que confirma o perfil sociocultural: formação superior e renda acima da média. Mas confirma também que o colecionador está aberto a todas as alternativas que lhe oferece o atual mosaico cultural pós-moderno.

Esta permeabilidade aos tempos, mesmo num setor social, em alguns aspectos, “tradicional”, se constata na definitiva aceitação de uma tecnologia que sofreu (e sofre ainda) uma grande resistência no “mundo do livro” (editores, livreiros, autores, bibliófilos e bibliômanos): setenta e quatro por cento dos entrevistados consideram “um bem” a “xerox”. As justificativas vão desde a possibilidade de acesso a livros de preços proibitivos até à facilidade de ter em casa a reprodução de uma raridade desejada, dispensando o copista.

Entretanto, a resistência (vinte e seis por cento consideram-na “um mal”) se justifica acusando a “xerox” de prejudicar o “objeto livro”, sonegar os direitos do autor e até de desestimular a compra de livros. Mas as justificativas a favor, sua grande maioria, lembram que dentre as suas vantagens estão: acesso a livros estrangeiros, difíceis de encontrar e caros; propagação de textos curtos; tornar disponíveis informações de outra forma inacessíveis; facilitar o trabalho escolar e a pesquisa. Embora vários entrevistados (a favor) tenham se manifestado contra o uso abusivo, alguém afirmou que a xerox é “uma segunda revolução de Gutenberg”. Num extremo, pode-se imaginar um colecionador pós-moderno com uma reprodutora doméstica editando solitariamente sua coleção: excertos, fragmentos, obras inteiras, Homero, Joyce, Haroldo de Campos e Paul Geraldy!

Diante de alternativas sobre o futuro do livro, setenta e um por cento afirmam que “o livro permanecerá sempre” (ver anexo 12). Palavra de fé de bibliófilo! Quinze por cento acreditam no livro, mas acham que sua importância cultural vai diminuir ou que algo nele vai mudar. Treze por cento acham que ele tende a ser substituído por meios de comunicação audiovisuais ou se transformará em disquetes de computador.

A pergunta 17 (ver anexo 12) pretendia captar a postura dos entrevistados diante de afirmativas que reafirmam a perspectiva da chamada “cultura letrada” ou “guntenbergueana” (a, b, c, d, e) e outras que indicam uma aceitação ou mesmo valorização positiva da “aldeia global” ou “civilização da imagem” (f, g, h).

De um total de 216 respostas (não eram excludentes) oitenta e dois por cento concordam com as afirmativas afinadas com a “cultura letrada”, restando dezoito por cento em favor da “civilização da imagem”. Como era de se esperar, considerando o universo trabalhado. Poderia surpreender-nos uma grande aceitação de afirmativas como a de que, “apesar de tudo, hoje as crianças lêem mais do que antigamente”. Mesmo sendo uma afirmativa verdadeira, pelo menos para o Brasil, após o extraordinário crescimento da literatura infantil dos anos setenta.

Os bibliófilos e o mercado

Para começar aceitemos a constatação de que a crise atual no consumo resultante da política de “exacerbação ao limite da concentração de renda” promovida pelo governo tem provocado uma queda nas possibilidades de consumo da população brasileira, talvez mais sentida entre as classes médias, onde se encontram os bibliófilos. Não é de se estranhar então que os entrevistados tenham respondido à pergunta (1) “o que mais você procura nos sebos”: livros baratos! (ver anexo 1). Até porque os entrevistados são os bibliófilos e os consumidores que por “efeito-substituição” buscam alternativas mais ao alcance de seu bolso. Mas é mais do que isto, certamente. É também uma indicação da perda da importância do livro intocado, imaculado, novo (mais um fim das “auras”?) e a permeabilidade da classe média ao objeto de segunda mão; para uns, também a aceitação maior da circulação, massificação, democratização, do conhecimento ou prazer; desprendimento do objeto: “compro, leio, vendo, troco, descarto...”; apenas satisfazer o “vício” de leitura, a preços acessíveis.

Livro barato também, digamos, é a suprema aspiração do colecionador. Rubens Borba de Moraes comenta “acabaram-se as pechinchas!”. Hoje o livreiro é muito informado e se o livro é raro e procurado, o preço expressa isso.

Mas mais do que preço barato, o que as respostas à pergunta (31) “Em que os sebos podem mudar para melhor?” (vide anexo 6) as alternativas que dizem respeito à necessidade e desejo de maior informação superam amplamente a reclamação por melhores preços e condições de pagamento: trinta e cinco por cento contra vinte e três por cento. O que é confirmado pela indicação de setenta e um por cento dos entrevistados de que “as editoras e livrarias não divulgam suficientemente o que colocam à venda” (pergunta 27, anexo 6). Além de mais informação, o que os colecionadores querem dos sebos é mais limpeza, conforto, organização do estoque (ver anexo 5). O questionário abria um espaço para que o consumidor indicasse até cinco sebos considerados por ele os “melhores do Brasil”. Apenas 47 votantes o fizeram. Houve abstenção de trinta e dois por cento. As justificativas apresentadas especialmente nas entrevistas feitas diretamente, que vão de um insuficiente conhecimento dos sebos das outras cidades, até “que isso é muito variável. Depende do momento. Quando um sebo compra uma biblioteca especial da minha área, esse será o melhor. Até que apareça outra em outro sebo!”. O resultado aparece no anexo 9.

O retorno à diversidade e o novo colecionismo

[...]
Serão os colecionadores de livros uma força da tradição? Ou são parte deste composto cultural híbrido de nossos dias? Pode um indivíduo de formação letrada sentir-se parte deste mundo, contemporâneo dos ávidos consumidores dos mass-media? A bibliofilia será amante ou cúmplice das grandes narrativas que ora desmoronam? Ou estará melhor neste emaranhado gigantesco de representações simbólicas das diversidades culturais? A análise dos resultados da pesquisa aponta-nos a abertura para o nosso tempo. Talvez até mais do que brechas ou fendas em algo monolítico, o que percebemos é o assumir plenamente da diversidade. Ao contrário do que aponta Canclini (5) não é o fim do “colecionismo”. O ato de colecionar, dentro dos padrões da modernidade, abre um leque imenso à diversidade, em que a existência do colecionador talvez se sinta mais à vontade, sem o peso dos modelos impostos. Mais livre, diverso e individualizado. Narcisista, talvez, preservando-se num mundo turbulento e agressivo. Sua relação com o passado transforma-se, é suave, sem envolvimentos profundos com o legado cultural, o que lhe permite a vivência da diversidade densa e multifacetada.
[...]
A sua presença na colcha de retalhos cultural da atualidade é indispensável, pois se estabelece aí uma relação renovada com o passado, através dos livros, veículos da tradição, trazida obliquamente até nossos dias. Dias conturbados, sombrios, mas prenunciadores de um novo tempo.

| TEXTO INTEGRAL |

© Aníbal Bragança, Eliane Ganem,
Maria Virgínia M. de Arana e Shirley Dias da Silva, 1999.
Texto gentilmente cedido pelos autores
Imagens: Escritório do Livro


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