As Riquíssimas Horas do Duque de Berry

Um livro de horas

O que é um livro de horas?

No final da Idade Média, manifesta-se a necessidade de um livro que torne acessível aos leigos certos elementos do breviário utilizado pelos padres. De acordo com este modelo litúrgico desenvolveu-se assim lentamente, ao longo do século XIV, um livro de devoções privadas que retomava o papel anterior do saltério.

Apesar das variações de formato e da abundância de ilustrações, todos os Livros de Horas são concebidos segundo um mesmo esquema, embora com exceções: começam com um calendário elaborado exclusivamente em função das festas religiosas. Seguem-se numerosas preces. Estas, compostas em grande parte de salmos, seguem o ritmo do cotidiano — matinas, laudas, prima, tércia, sexta e nôa, vésperas e completas pontuam o dia.

O livro de horas foi o best seller da baixa Idade Média, sendo que seu uso sempre ficou limitado à leitura privada, alheia às cerimônias públicas e coletivas. Todos tinham seu Livro de Horas, muitas vezes o único da estante. Mesmo os analfabetos, que decoravam suas orações. Modestos ou suntuosos, exerceram um papel de suma importância social, seja como cartilha para o aprendizado da leitura, seja como símbolo da riqueza de seus possuidores — podiam valer tanto quanto grandes propriedades, até figuravam nos inventários.

Com o Livro de Horas a iluminura alcançou o pináculo da perfeição, assim como um esplendor jamais igualado. Beneficiou-se de uma conjunção entre numerosos grupos de artistas excepcionais e duas ou três gerações de príncipes bibliófilos, opulentos e generosos.

As Riquíssimas Horas do Duque de Berry

O mais conhecido e o mais belo entre os Livros de Horas foi executado, por encomenda do duque, pelos irmãos Limbourg. O duque e os artistas, porém, morreram antes do término da obra, cujas miniaturas exibem, num colorido luminoso, admiráveis representações da vida cotidiana. Clique na imagem para vê-la maior e com legenda.

Dentre as originalidades da obra, os especialistas apontam a prioridade dada às paisagens, tratadas com extremo realismo. Pela primeira vez, a paisagem é vista como um motivo independente: as cenas se desenvolvem sob um céu anilado, em contraste com uma arquitetura perfeitamente delineada. É a descoberta do céu como elemento expressivo e, ao mesmo tempo, a descoberta da superfície da Terra como palco onde se desenrolam cenas da vida cotidiana.

O mecenas

Conhecido como O Príncipe dos Bibliófilos, João de França, Duque de Berry (1340-1416), filho, irmão e tio de reis da França, não deixou boa lembrança como político e governante. Mas era um profundo apreciador das artes, e possuía imensa fortuna.

Colecionador apaixonado de obras artísticas (colecionava castelos, rubis, avestruzes...) reservava o melhor de seu entusiasmo para os Livros, principalmente os iluminados, que comprava ou mandava copiar e ornar, ele mesmo orientando todas as fases do trabalho, já que dominava os segredos do ofício e era homem de gosto apurado.

Reunindo a seu redor os artistas mais famosos da época, conseguiu formar a mais luzidia coleção particular de manuscritos de todos os tempos, que incluía nada menos que 15 Livros de Horas, 14 Bíblias, 16 saltérios, 18 breviários e 6 missais.

Os Iluminadores

Desde o século XII, começaram a se estabelecer nas principais cidades européias vários ateliês de iluminura laicos, formados por profissionais que foram paulatinamente arrebatando às comunidades religiosas a edição de manuscritos — pondo fim ao secular monopólio eclesiástico.

As Riquíssimas Horas foram pintadas pelos três irmãos Limbourg — Paul, Hermann e Jean, artistas flamengos contratados pelo duque de Berry por volta de 1405.

Os Limbourg utilizaram uma grande variedade de cores obtidas através de minerais, plantas ou produtos químicos, misturados com goma arábica para ligar a tinta. Entre as cores incomuns que utilizaram estão o verde íris, obtido esmagando-se flores e massicote (óxido de chumbo), e o azul ultramarino, feito de lapis-lazuli orientais triturados. Esta cor era usada para representar os azuis brilhantes. Possuía, evidentemente, um valor inestimável!

Os detalhes extremamente precisos são característicos do estilo dos Limbourg, que exigia lupas e pincéis finíssimos.

Os quadros a seguir integram o Calendário das Riquíssimas Horas. Pintado entre 1412 e 1416, constitui a mais bela parte do manuscrito e, certamente, um dos grandes tesouros da França. Clique nas imagens para vê-las maiores e com legenda.

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| EDIÇÃO FAC-SIMILAR |

Traduzido por

Bárbara Leal A. Guimarães
Heliana Lacerda Dal Fabro
Luciana Ferro Borini
Maria da Graça Oliveira
Maria Tereza Shaedler
Mario Lourenço Thevenet
Marise Didoné
Ricardo Jorge Wolff
Simone Maria Losso


alunos de Tradução do Curso de Nancy II da Aliança Francesa de Florianópolis (1999),
a partir de um site infelizmente retirado desde então da rede, http://www.geocities.com/Vienna/Strasse/3356/berry.htm.
Já as legendas de algumas imagens foram extraídas da História da Arte de H. W. Janson |ver Bibliografia|

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